Entre a pessoa e a coisa

Nos moldes de vida atual, quando se cria um objetivo, seja ele qual for, vive-se exclusivamente a expectativa de sua conquista e pouco se observa ou se aproveita do processo vivido até a sua realização, apesar de ser exatamente para os processos, mesmo quando experimentados de maneira ansiosa, que dispensamos o maior tempo de nossas vidas.

A super valorização do objeto tornou inevitável e consequente a desvalorização do sujeito (a pessoa). Não é por acaso que se multiplicam os mitos inalcançáveis, perseguidos por “paparazzis”, a exposição de “pessoas-objeto” na mídia, como é o caso dos “big brothers” e outras invasões de privacidade, quase sempre permitidas, em prol da conquista da “coisa”. Sem nos darmos conta, tudo vem se “coisificando”. Pessoas comuns se disponibilizam para o consumo como também o fazem as “coisas-celebridades”, algumas por inteiro outras em postas: em forma de cabelos, bundas, peitos, unhas, músculos e caras.

Quais são verdadeiramente os nossos desejos e quais são os desejos da cultura de consumo que nos envolve?

A cultura contemporânea como sabemos, está diretamente associada ao capitalismo, o que a torna uma feroz discriminadora de toda opinião ou escolha que possa dificultar o consumo como fim em si. Estabelece critérios comprometidos com o sistema no qual está inserido e que por isso mesmo determina o que é certo, bom, bonito e saudável e assim os qualifica e os amplifica através da mídia.

Condicionados a cumprir o papel que lhes impõe esse sistema, inúmeras pessoas apenas repetem o que recebem, sem seleção prévia e critério próprio. Outras, quando contrárias a esses valores, tendem a encerrar suas opiniões e experiências, dentro de espaços diferenciados e sem relação com o estabelecido; espaços à margem. Criam-se então, dois “recipientes de contenção” totalmente distintos e sem espaço dentro deles para nada que não seja igual ou semelhante ao já existente. Em geral não há entre esses dois opostos, qualquer veículo que possibilite trocas ou misturas, como poderia fazer a arte já que ela tem estruturalmente uma constante relação com a diversidade. É justamente com ela, a diversidade, que a arte enriquece sua linguagem.

Assim como a criatividade promove a aproximação do individuo com a legitimidade de suas opiniões, a cultura do objeto como fim, vem alienando e o afastando dele mesmo.
Pelo importante papel que tem a arte na manutenção e fortalecimento da legitimidade de um povo e de cada pessoa individualmente, sugiro que se faça uma reavaliação constante do espaço, do olhar e da importância que vem sendo reservada para a arte dentro de processos, nos quais o homem se vê dependente, como é o caso da educação e da saúde, assim como da arte dentro da própria arte.

 

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