Efêmeras Permanências


Realmente vivemos a cultura do descarte e com ela a pasteurização dos critérios, das condutas, dos significados.

Desejos vêm se tornando sinônimo de objetivos. Talvez por isso as metas morram tão cedo, logo após a conquista, e sem deixar lembranças.
Na verdade, tudo se tornou mais efêmero. Valores que possam ser estruturais tornaram-se irrelevantes e vêm sendo substituídos pelos “efeitos que causam” e pela rapidez de resultados. Hoje, mais vale a impressão que uma “coisa” pode causar, do que a possível consistência nela contida. O mais triste disso tudo é que o efeito dessa substituição não promove qualquer desenvolvimento no sujeito, no máximo o decora externamente.

A arte vem denunciando isso faz algum tempo, quando utiliza a efemeridade como matéria em grande parte de suas ações e produtos.
Na comunicação tecnológica, as postagens nas redes sociais vêm nos mostrando o valor que é depositado às idéias, acontecimentos e informações contemporâneas. Tudo parece ter o tempo de vida e a importância medida pela permanência na primeira página.

Assim, sob o domínio do efêmero, se constroem e desaparecem valores. Pessoas talentosas, ou que parecem ser, são empurradas para se tornarem o resumo de si mesmas: as chamadas celebridades. Essa mesma “consistência” que coloca hoje no pódio a “bola da vez” busca outras a seguir para alimentar o “frenesi” das trocas.

Mas, o que fazer se nessa dinâmica voraz o que é descartado por acaso for pessoa?

Se não houver reflexão, mas sim a insistência em se manter pertencente a esse sistema, melhor mesmo essa pessoa tentar se reinventar; Quem sabe mudando a embalagem o público volta a consumi-la?

No entanto, se houver consciência dessa efemeridade e suas sérias consequências no longo prazo, pode-se promover uma mudança na qual uma meta importante a ser alcançada é a legitimidade. Isso me pertence? É isso que eu quero ou preciso?

Não vou me cansar de denunciar a fragilidade e irresponsabilidade (consigo mesmo e com o outro) tão presentes no indivíduo contemporâneo. Também não vou me cansar de sinalizar para que se enxergue a importância que tem a arte como recurso fortalecedor e quanto ela pode ser contribuidora para uma revisão da responsabilidade que todo indivíduo tem com si mesmo, com o outro e o meio ambiente. O contato com a arte, seja através da ação artística em si ou como exercício de contemplação, vai muito além de ver ou sentir a beleza. Dá ao indivíduo a oportunidade da reflexão sobre si mesmo e sobre o mundo ao qual estamos todos inseridos. A arte promove o pensar a própria vida. Essa relação com a subjetividade que ela propõe, é também o contraponto de tudo que a nossa sociedade manipula e que insiste em coisificar e descartar.

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