Caos Criativo

Naquele dia, se houvesse produto, seria um caldo de tintas sem controle. O que produziu na professora uma sensação de incompetência pela imprevisibilidade do processo, além da frustração de não ter, no final, nada para guardar ou colocar no mural.

O menino tinha quase oito anos, e aquela foi a primeira vez que na aula de artes ele abandonava seus desenhos repletos de significados concretos contidos em formas previsíveis para simplesmente sobrepor um monte de cores sobre um mesmo papel. A quantidade de tinta era realmente demais para a fragilidade do suporte, a ponto de invadir mãos, braços e boa parte da mesa.

Não conseguindo assistir durante nem mais um segundo aquele processo que se mostrou tão transgressor, a professora o interrompeu sob o argumento de que estaria abrindo à possibilidade de todos esparramarem tintas e se ampliar o caos.

Vale pensar na dificuldade tão comum que temos para lidar com a falta de controle; mais pelo estímulo que certas ocorrências podem produzir despertando nossos descontroles pessoais do que efetivamente pelo descontrole que supostamente podem promover em terceiros.

Não poderia ser o caos criativo e/ou emocional instalado naquele aluno o deflagrador desse processo?

Percebe-se que há, simbolicamente, uma estreita relação entre certas tintas e a fluidez dos sentimentos. Portanto, vale pensar que aquele menino poderia não estar mais dando conta de suas emoções, justificando tamanho derramamento.

É preciso lembrar também, que vivemos uma cultura caracterizada por uma fome de produtos, que não poupa os profissionais da área educacional.

Educadores falam muito em “processo”, mas, pessoalmente acredito que, para a grande maioria, o que ainda os conforta e tranqüiliza é o tradicional e palpável “resultado final”.

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