O espaço das falhas

Na nossa sociedade, “separar o joio do trigo” é um provérbio popular empregado para definir as práticas que separam o que serve e o que não serve. Uma metáfora muito utilizada para as discriminações sociais e que nos ambientes educacionais tradicionais pode significar o ato de pinçar os alunos “assertivos e qualificados” de um coletivo constituído pelo diverso. Em geral, esse mesmo sistema também acredita que o máximo de informação é bagagem para o sucesso.

Contrariando esse critério estão os processos criativos e artísticos que dependem justamente do diverso , da reflexão e do vazio. Três parceiros que se complementam, quando então: a diversidade se constitui fonte de alimento desses processos, a reflexão uma agente transformadora da informação em conhecimento, e o vazio o terreno fértil onde o aprendizado criativo se desenvolve. É nesse ambiente que nascem o olhar e a escuta sensíveis, e deles as ações expressivas.

Uma das qualidades da arte é que ela pode substituir ou mesmo complementar o que por qualquer motivo as palavras não dão conta. Ela permite que todas as opiniões, sensações e sentimentos tenham espaço de representação. Portanto, o termo “incluir os diferentes”, tão utilizado na educação, não é um ato de exceção movido por compaixão ou tolerância. É, na verdade, uma valiosa experiência prática e reflexiva para todos os que se flexibilizam e compartilham particularidades; uma atitude que permite revisões de tempo, espaço, estética, linguagem, afeto, sociedade, escuta e olhar.

Sem a proximidade oferecida pelas trocas, os que são definidos como “joio”, por não se encaixarem na forma dos virtuosos, assim como aqueles que são definidos como “trigo”, por atenderem aos padrões de valor pré-estabelecidos, têm, ambos, seus conhecimentos limitados pelas fronteiras que produzem dois mundos restritos.

Restrita é também a educação baseada em coleções competitivas de informação entre os alunos. Um sistema de ensino iludido pela crença de que informação é conhecimento.

Restrita é a cognição que faz uso unicamente da linguagem verbal como veículo de aprendizado.

Ampla é a cognição que considera o autorreconhecimento uma nutrição de base e porque não, utopicamente espera que cada aluno a seu tempo possa aprender através de vivências que circulam entre variados ambientes do conhecimento, fazendo uso de diferentes linguagens que incluem além da verbal, também a musical, a plástica e a corporal.

Ampla é a cognição que, rebocada pela arte, atravessa, relaciona e insere numa teia as diferentes pessoas, conteúdos e matérias escolares.

Ampla é a cognição que caminha entre opostos como são a objetividade e a subjetividade.

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